São pensamentos soltos, traduzidos em palavras pra que você possa entender, o que eu também não entendo.

LAURA I



CAPÍTULO I


            Ao longe, você só se parecia mais uma entre milhares que estavam naquela rua. Até que ao me aproximar, e você me olhar de relance eu pude notar seus olhos, como eles brilhavam. Como você era diferente de todas as outras. Seus lábios, como eles me chamavam atenção. Você seguia caminhando, com uma sacola nas mãos, eu continuava te seguindo. Seu olhar lateral para mim não era de incômodo, era de prazer. Eu podia sentir. Percebi desde aquele momento como você me queria longe e perto. Apressei ainda mais meus passos. Fiquei ao seu lado. Mas te sentia distante. Seus pequenos e frágeis pés puseram-se a correr. Naquele momento você queria distância de mim. E eu não pude entender. Deixei-a ir, não por covardia, medo ou fraqueza, mas por bom senso.
Esse mesmo bom senso que foi embora quando resolvi te procurar no mesmo dia, na mesma hora e no mesmo lugar, no dia seguinte. Você estava lá de novo, não tão apressada como antes, novamente com uma sacola nas mãos. Seus passos eram lentos, eu te alcancei rapidamente, fiquei ao seu lado. Arrisquei um sorriso. Afinal, sorrisos servem para isso. Para serem atirados e desperdiçados com quem você acha que merece. Ela merecia. Meu sorriso se congelou por alguns segundos, até que fosse correspondido. Eu merecia. Para ela eu merecia um sorriso seu. Perguntei seu nome, era Laura. Como aquilo soava bonito. Como as letras se combinavam. Seu nome era uma poesia, agora transformada em romance. Apresentei-me como Júlio. Apesar de o meu nome ser Juliosvaldo, todos me chamam de Júlio, ou para os mais íntimos: Julinho. Ela sorriu mais uma vez e continuou andando. Eu a segui. Ela entrou em uma rua estreita e de repente se virou para mim e perguntou para onde estava indo. Mal sabia onde estava, conhecia aquele lugar por nome, era a Rua das Castanheiras, no interior do Rio. Sabia que mais adiante nessa rua havia um famoso costureiro.
- Estou indo ao Rei Pedro.
Ela me olhou um pouco surpresa e continuou caminhando. E eu continuei seguindo-a, sem ter ideia de onde seria o alfaiate.
 Por sorte, avistei de longe um galpão antigo, porém muito bem conservado. Era todo de madeira, onde tinha gravado, em letras garrafais: ALFAIATARIA DO REI PEDRO. Ela entrou. Em seguida eu entrei.
- A bênção pai.
- Deus te abençoe.
Foram essas as palavras que ouvi dela e em seguida do aparente costureiro assim que entramos. Ela largou sua sacola em cima de um balcão e depois se sentou confortavelmente em um dos bancos que ficava à frente do alfaiate. Eu pedi ao costureiro que me fizesse uma calça, depois disse short, e depois disse camiseta. Não sabia, estava em dúvida. Não havia pensado sobre isso. Laura sorriu disfarçadamente ao notar minha confusão. Optei pela calça. O senhor, já de cabelos grisalhos, barba mal feita e dentes amarelos, se dirigiu a mim para que tirasse minhas medidas. Em seguida, Laura pegou uma caixa com alguns retalhos, e me mandou escolher o tecido para a calça. Pedi que ela escolhesse o que mais lhe agradava. Seu pai pediu que eu voltasse em uma semana, e fui embora. Voltei, assim como o combinado. O Rei Pedro, segurou em suas mãos minha nova calça. Notava-se que o tecido era de uma boa qualidade, e cuidadosamente costurado. Laura estava ao fundo, arrumando a caixa com novos retalhos. Peguei as calças das mãos do costureiro, paguei e saí. Laura não havia sequer olhado para mim.

3 comentários:

Anônimo disse...

Cara, que perfeito *-*

parabéns Tito.
muito bonito aqui ! ;)

seguindo você!

Bartira Barreto disse...

Hum... Gostei! Vou esperar ansiosa pelo II capítulo!

Nathália disse...

Ta ótimo...
Tito vc escreve mtooo bem !!!
Parabéns :)

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Amar não é ter que ter sempre certeza. É aceitar que ninguém é perfeito prá ninguém. É poder ser você mesmo, e não precisar fingir. É tentar esquecer e não conseguir fugir.Já pensei em te largar, já olhei tantas vezes pro lado.Mas quando penso em alguém, é por você que fecho os olhos. Sei que nunca fui perfeito, mas com você eu posso ser até eu mesmo, que você vai entender... Posso brincar de descobrir desenho em nuvens. Posso contar meus pesadelos e até minhas coisas fúteis. Posso tirar a tua roupa, posso fazer o que eu quiser. Posso perder o juízo, mas com você eu tô tranquilo, tranquilo... Agora o que vamos fazer, eu também não sei. Afinal, será que amar é mesmo tudo? Se isso não é amor. O que mais pode ser?
Tô aprendendo também...