São pensamentos soltos, traduzidos em palavras pra que você possa entender, o que eu também não entendo.

O homem da janela.

Era uma tarde fria de inverno, estava sozinho, como na maioria das vezes. Olhei para a janela, pois reparara um certo movimento lá fora. Mas encontrava-se embaçada demais para eu ver o que acontecia. Estava deitado e cansado, tive um dia difícil e naquele momento só pensava em dormir. Regina havia me deixado muito preocupado a tarde toda com uma conversa séria, que segundo ela tinha que me contar. Fiquei pensativo. O que eu poderia ter feito de errado? Não havia nada que eu conseguisse lembrar. Tivemos uma pequena discussão semana passada, mas nada que afetasse nosso relacionamento. Enfim, pra acabar com a minha preocupação, ela disse que estava pensando em abandonar seu marido. Gritei com ela, aquilo seria uma péssima ideia e deixei claro que isso não podia acontecer. Sim, eu sou um amante, e não me importo com isso. Ele é um velho, barrigudo, rico e impotente. Talvez ela tivesse se cansado de aturá-lo. Mas eu me sentia muito bem com aquela situação. O velho ficava com todas suas contas e preocupações e eu somente com a parte mais prazerosa da relação. O movimento lá fora estava cada vez mais forte e próximo da janela. Resolvi levantar pra ver o que era. Esfreguei minha mão na janela, desembaçando-a. O que eu via era um homem vindo em direção, seus passos eram fortes e lentos, e ele tremia. Estava desagasalhado e realmente devia fazer muito frio lá fora. Hesitei em chamá-lo para dar um casaco antigo que não usava mais, porém que esquentava muito. Não o chamei. Nem fiz algum tipo de sinal. Esperei ver até aonde ele iria, afinal ele já estava bem próximo da minha janela. A dois passos de chegar, ele parou. E ficou lá, parado por alguns minutos. Deu mais os dois passos restantes, respirou profundamente, esticou seu braço e bateu na minha janela. Ele não havia percebido que estava ali, acredito que devido à névoa, por fora, estava mais embaçado ainda. Mas eu pude vê-lo e ele me parecia atordoado em seus pensamentos. Fiz algum movimento para que ele me notasse, então ele mexeu suas mãos apontando para dentro da casa, como se quisesse entrar. Fiz um sinal para a porta, e ele foi até lá. Abri a porta rapidamente, sem pensar duas vezes. Não sei o que estou fazendo. Foram essas as palavras que ele usou, me olhando assustado. Você é da polícia? Ele me questionou. Eu sempre quis ser um policial, mas na época que eu podia servir ao exército estava me recuperando de um acidente de moto, e deixei o tempo passar. Virei um sedentário bancário. Não, não sou, respondi. Eu matei uma pessoa. Eu acabei de matá-lo. Por favor, deixe-me entrar, gritou. Eu não tive escolha, ele podia estar com a arma do crime e a porta já estava toda aberta, tinha me tornado seu refém. E como um bom e educado refém, mandei-o entrar. Ele se sentou no meu sofá e começou a falar. Eu matei, matei o amante sujo e desgraçado da minha esposa. Eu a sustentava pagava todas as suas contas, lhe dava jóias e carros importados, lhe dava amor, ou ao menos achei que dava. Pergunto-me o que a levou a procurar outro homem? Fui um trouxa, tive muitas oportunidades para traí-la e não a traí. Disse inconsolado. Mas a verdade é que todo ser humano trai, a si mesmo ou aos outros. Afinal eu sou um traidor, não permiti que Regina abandonasse o velho, preferi continuar na vida de amante. Traio aos outros e a mim mesmo. E se esse homem que está na minha frente, fosse o velho de Regina? Talvez já estivesse morto uma hora dessas. Mas por sorte não, não é. Ele é tão caquético que não teria força nem coragem para fazer isso. Tenho sorte. Quantas pessoas estão no seu momento de sorte e não sabem? Bem, pelo menos agora eu já sei. 
Tito Lívio;

Amar não é ter que ter sempre certeza. É aceitar que ninguém é perfeito prá ninguém. É poder ser você mesmo, e não precisar fingir. É tentar esquecer e não conseguir fugir.Já pensei em te largar, já olhei tantas vezes pro lado.Mas quando penso em alguém, é por você que fecho os olhos. Sei que nunca fui perfeito, mas com você eu posso ser até eu mesmo, que você vai entender... Posso brincar de descobrir desenho em nuvens. Posso contar meus pesadelos e até minhas coisas fúteis. Posso tirar a tua roupa, posso fazer o que eu quiser. Posso perder o juízo, mas com você eu tô tranquilo, tranquilo... Agora o que vamos fazer, eu também não sei. Afinal, será que amar é mesmo tudo? Se isso não é amor. O que mais pode ser?
Tô aprendendo também...